Umbigo do Leo

Como vocês sabem, eu enterrei o umbigo do Leo.
Isto por que um amigo meu aqui do Senac me disse que a mãe dele enterrou - na entrada do sítio onde ele cresceu - os umbigos dos 11 filhos, e lá na terra dele (Bahia) este é um ritual tradicional que é feito pelos pais para que a criança tenha sorte.

Pois bem. Ando meio fora do eixo agora que virei pai. Enterrei o umbigo do Leo, afinal, como o Daniel disse, “mal não vai fazer”.
Mas por não termos terra em casa, enterrei no vaso do coqueiro que temos na garagem, porque aquela terra é nossa, e quando formos embora da casa o vaso vai junto conosco. E também porque, no mínimo, um umbiguinho seco vai adubar a planta, não é mesmo?
Então, que mal tem??? Peguei o umbigo e fui cavar no vaso.
Mas quando ia enterrá-lo definitivamente, e enquanto lutava internamente contra a porção extremamente cética que ainda vive em mim e que me dizia “larga a mão de ser palhaço, isso é superstição”, passou pela minha cabeça uma outra coisa: como a terra iria saber que aquele era o umbigo do Leo????
Isso mesmo. Como “a TERRA” iria reconhecer aquele umbiguinho seco e em decomposição como o umbigo do Leo?

Ué!? Aquele vaso nós herdamos da mãe da Fê e antes de vir para a nossa casa ele estava a não sei quantos anos no consultório dela. Vai saber quantos outros umbigos estranhos podem ter sido enterrados ali! O umbigo da Fê poderia estar ali, o umbigo da Julia poderia estar ali, e umbigos de outrem que não são da família podem estar ali também.... Como, então, “a TERRA” reconheceria o umbigo recém chegado como o umbigo do Leo, e, o que me preocupou, é como “ela” emanaria sorte para o Leonardo se o umbigo dele não estava devidamente identificado?
Ah!!! Se é pra ser supersticioso vamos fazer direito, não é!
Peguei um pedaço de papel higiênico, embrulhei o umbigo, e tomei as devidas precauções para que a sorte emanada pela TERRA (letra maiúscula e em negrito, pois trata-se de uma entidade com força mágica) não fosse enviada para os donos dos outros umbigos que supostamente podem estar enterrados ali naquele vaso.
Etiquetei o umbigo: “Leonardo Varella Brogliatto Ruggiero, 5/10/2008 – Sorte, Saúde, Amor, Sucesso, sempre.” Já que vai mandar a sorte, manda um pouquinho do resto também né!?
Abri o buraco, coloquei o umbigo e tampei bem.
Pronto. Ali estava eu, em conflito com minhas próprias convicções, me sentindo patético, mas acalentado pelas palavras do tio do Leo. “Mal não vai fazer”, ecoando na minha cabeça.
Então, no mínimo não acontece nada. Mas quem sabe não rola uma sorte pro Leo? Às vezes eu jogo na mega-sena achando que posso ter o rabo de acertar aqueles malditos 6 números mesmo sabendo que a chance de ganhar a bolada é de 1 em milhões.....
Joguei na mega-sena para o Leo e já apostei alto. Pedi logo sorte, saúde, amor, sucesso, e que seja para sempre, claro! Sem miséria, mano!

Ah, sim! Fiquei com dúvidas se o fato de eu ter enterrado o umbigo num vaso com terra e não no solo de terra teria alguma influência na eficácia do ritual, então fui procurar alguma literatura sobre isso. Encontrei o trecho que copio abaixo em um “Dicionário dos Símbolos”, vejam que interessante:
“Na Cabala, o vaso significa o Tesouro. Apoderar-se de um vaso é conquistar um tesouro. Partir um vaso é aniquilar, pelo desprezo, o tesouro que ele representa.
Na literatura medieval, o vaso contém um tesouro – o Graal, as Litanias, etc. O vaso alquímico e o vaso hermético significam sempre o lugar onde as maravilhas se operam: é o seio materno, o útero no qual se forma um novo nascimento. Daí a crença que o vaso contém o segredo das metamorfoses.
Sob múltiplos aspectos, o vaso encerra o elixir da vida: é um reservatório de vida. Um vaso de ouro pode significar o tesouro da vida espiritual, o símbolo de uma força secreta.
O facto de o vaso ser aberto em cima indica uma receptividade às influências celestes.”
Pois é.
O umbigo está na terra, fonte de vida.
O ritual foi realizado, e os pedidos foram feitos com esperança, a despeito das dúvidas.
Alea jacta est!


(O umbigo do Leo foi enterrado em 05/10/08 e o texto foi escrito na época!)